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Turismo

Tão longe, tão perto! A distância pode ser medida de duas formas: em quilômetros ou no tanto de saudade que aperta o nosso coração.

Publicado em 02/07/2024
Autor: Artur Mota Silva

De São Paulo, cidade onde nasci e moro, até Nova Xavantina, são 1 154 km de distância. Não é muito, se pensar que 7000 km me separam de Portugal, terra dos meus pais. O fato é: estive mais vezes no velho continente do que em Nova Xavantina, que não visitava há 25 anos!

O ônibus da Viação Xavante estacionou em uma rodoviária moderna, bem diferente daquela da primeira visita. Na Xavantina de 25 anos atrás, o ônibus parou no... nada. Lembro de ter perguntado ao motorista: “Onde fica a cidade?”. Ele respondeu: “É aqui, minha senhora”.

O “aqui” só se concretizou quando vi minha irmã Lena com os braços abertos vindo para um abraço apertado. Pronto! Não interessava mais se havia cidade. Eu estava em casa!

Nessas idas e vindas como jornalista, percebi que não se pode definir um lugar apenas por questões demográficas, pelo tamanho, beleza ou importância econômica. Um lugar existe pelas pessoas que nele vivem.

Por isso, não me interessou que a rodovia federal que corta Mato Grosso agora fosse moderna, com suas marginais largas e asfaltadas. Também não me impressionou a nova praça recém-inaugurada ou a passarela para pedestres que reúne Xavantina a Nova Brasília. Eu só tinha olhos, coração e mente para os meus amados sobrinhos, para o cunhado Artur, para as conversas na rede com a mana, para as frutas pegadas no pé no quintal da casa... Que alegria rever a família!

Contei a eles sobre as peripécias da viagem. Como o voo para Goiânia havia atrasado. Da mala pesada, repleta de bacalhau – devidamente encomendado pela Lena. De ter apenas 20 minutos para pegar o ônibus das 22h30! Não é que deu até para comprar duas latinhas de cerveja, relaxar e ver a cidade ficando para trás?

Relaxar? Mais ou menos! O banco do ônibus leito estava quebrado: o encosto teimava em ficar de pé! A bendita cerveja me levou várias vezes ao banheiro. Agarrava-me como podia entre os bancos, pois a estrada estava bem esburacada. Até que veio o vexame maior: a porta do banheiro abriu e eu caí para fora com as calças arriadas. Acabei dormindo após Barra do Garças, vencida pelo cansaço.

Pessoas! Alessandra, minha afilhada (e sobrinha) reluzia, linda, com seus cabelos loiros e olhos de um azul profundo. Na beira do Rio das Mortes deitadas na areia da praia, conversávamos sobre a vida: quantas voltas que ela dá! Da última vez em NX, Alessandra era uma menina. Lembro que eu estava na mesma praia, sob o mesmo sol intenso. Abri os olhos e vi a turminha, entre eles, meu inquieto sobrinho Henrique, que perguntava: “Tia, você vai atravessar o rio a nado?”. Como assim? Na época, eu fazia mergulho e ele já havia avisado a todos que a tia era um talento! Olhei o rio caudaloso, que arrastava troncos, chequei a imensa distância entre as margens e avisei: “Henrique, só amanhã!”.

O amanhã quase não chegou! Nessa mesma tarde, cai da bicicleta – o que foi ruim, mas foi bom! Explico: estar toda arranhada me impediu de atravessar o Rio das Mortes. Por outro lado, meu sobrinho se deu por satisfeito com a minha façanha, correndo ladeira abaixo, em uma bicicleta sem freios. Não sei como, mas voei sobre um abismo e aterrei do outro lado! “Nossa tia! Que radical”, vibrava Henrique! O meu troféu foi uma cicatriz no joelho, que carrego até hoje!

Pessoas! Na época, Camila, minha sobrinha mais nova, ainda estava na barriga da minha irmã. Agora, nós duas desfilávamos na festa de inauguração do “Festival de praia” e todos comentavam: “Ela mais parece sua mãe do que sua tia!”. Somos, mesmo, muito parecidas. Até na especial habilidade de beber muitas cervejas. Em Nova Xavantina não há lugar melhor que o Bar do Portuga para tomar vários goles e observar o dourado do pôr do sol colorindo as águas do Rio das Mortes. O espetáculo da natureza seguiu noite adentro, com a lua cheia pintando as águas de prateado!

A semana passou rapidamente! Despedi de todos no churrasco feito na casa da doce Carol! Mal cheguei à rodoviária com a Lena e o Artur, quando ouvi os gritos da surpresa especial: “Te amamos, tia”. Pessoas!

Embarquei no ônibus engolindo os soluços e mandando beijos, até que a escuridão encobriu as imagens queridas. Deitei o banco (desta vez, funcionou!) e chorei de tristeza. Ou de alegria, por ter pessoas tão especiais, que junto com outras tantas, fazem Nova Xavantina ser uma cidade aconchegante e calma.

Pessoas! Segui viagem conversando com o Sr. João Violin, que mora em São Paulo. Uma vez por mês ele vai a NX, visitar suas terras. Perguntei: “Não é muito longe?”. Ele respondeu algo, mas não ouvi. Naquele momento, apenas escutei o meu coração, que dizia: “Tão longe e tão perto!”.

Texto: Isabel Reis, jornalista.

 

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